13/09/2019
As análises de qualquer indicador, quando elaboradas mensalmente, por exemplo, têm embutido nos números os efeitos sazonais que são variações características de um mesmo período, em maior ou menor intensidade. Eles repercutem as variações que ocorrem sempre nos mesmos períodos do ano, criando dificuldades adicionais às análises em decorrência da maior volatilidade dos dados. Além de se extraírem esses efeitos sazonais das séries originais utilizando técnicas estatísticas apropriadas, resultando nas denominadas séries dessazonalizadas ou livres de influências sazonais, outra estratégia de mitigar esses efeitos sazonais é trabalhar os dados acumulados em doze meses, como proposto no presente estudo.
Nesse caso, o indicador de interesse é o número mensal de empregos com carteira de trabalho assinada gerados no estado do Ceará nos dois últimos anos, com base nos microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) acumulados em doze meses, cujas análises objetivam subsidiar as ações da intermediação de mão de obra do SINE/IDT no Ceará no último quadrimestre de 2019.
Tomando-se para análise os números de empregos com carteira de trabalho assinada gerados no estado do Ceará no acumulado de doze meses, entre janeiro de 2018 e julho de 2019, algumas constatações se apresentam bem evidentes e ilustram a perda de dinamismo do mercado de trabalho estadual a partir de março desse ano, tal qual a lenta recuperação do emprego assalariado com registro em carteira em meados de 2019, com uma performance muito aquém da de 2018 (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Número de empregos formais gerados –
Estado do Ceará – Jan/2018 – Jul/2019
No acumulado de doze meses, o mercado de trabalho cearense gerou bem mais empregos no primeiro bimestre de 2019 (15,2 mil mensal) do que no mesmo período do ano anterior (5 mil por mês), porém, de abril em diante, embora positiva, essa dinâmica é invertida, pois é cada vez menor o saldo de emprego em doze meses, o que significa dizer que a economia cearense está contratando mais do que demitindo, mas esse diferencial se mostra cada vez menor. Enquanto nos primeiros dois meses do ano foram registrados saldos positivos de mais de 15 mil empregos, em junho e julho, ocorreram saldos mensais na faixa de 6 mil empregos, o que está a refletir o discreto ritmo de atividade econômica no País e no Ceará, dentre outras motivações, o que tem limitado sobremaneira a capacidade de geração de empregos das empresas, postergando uma melhora mais convincente e perceptível dos indicadores de emprego, desemprego, informalidade e subutilização da força de trabalho.
O cenário é ainda mais preocupante quando da comparação com o mesmo mês de 2018, em decorrência de trajetórias muito distintas, com expansão cada vez mais forte do emprego em 2018, ocorrendo o contrário em 2019. Se em maio e junho de 2018 a economia cearense gerara algo em torno de 20 mil empregos/mês, no mesmo período de 2019, foram contabilizados apenas 6 mil novos empregos, dinâmica esta que se manteve em julho (6,2 mil).
Não obstante, o resultado de julho parece indicar que o pior pode ter passado, uma vez que o número de empregos gerados nos doze meses encerrados em julho cessou o movimento de queda verificado desde março até junho. Como os números do emprego são usualmente melhores a partir de setembro, como ilustram os números de 2018, é de se esperar que esta melhora seja confirmada com os próximos resultados do CAGED, momento que não deve e nem pode ser desperdiçado quando se trata das metas da intermediação de mão de obra do SINE/IDT para o corrente ano.
No recorte por setor de atividade, se em 2018 houve uma convergência de esforços dos quatro principais setores econômicos do estado, que viabilizou saldos positivos de emprego no Ceará, o mesmo não ocorreu no ano seguinte, em que destacadamente a construção civil e, em menor medida, a indústria de transformação eliminaram postos de trabalho nos primeiros sete meses de 2019, conforme ilustrado no Gráfico 2.
De fato, nos doze meses até julho de 2019, enquanto a construção civil cearense eliminou 5.418 empregos, a indústria de transformação fechou 2.123 postos de trabalho, o maior saldo negativo do ano, o que fora atenuado pela criação de vagas para empregos nos serviços (+11.166) e no comércio (+2.593), este o melhor resultado do ano, tendo inclusive superado o saldo de julho de 2018 (1.699 empregos adicionais).
Gráfico 2 – Número de empregos gerados por setor de
atividade – Estado do Ceará – Jan/2018 – Jul/2019
O fechamento de 2.123 postos de trabalho na indústria de transformação estadual repercutiu especialmente no encolhimento do nível de emprego das indústrias de calçados (-2.088 empregos) e têxtil do vestuário e artefatos de tecidos (-1.964), cujo impacto negativo foi amenizado pelo surgimento de empregos nas indústrias do material elétrico e de comunicações (1.615) e química e de produtos farmacêuticos (298), além de outros cinco ramos industriais que registraram saldos positivos menos impactantes.
No setor de serviços, os ramos que mais se destacaram na geração de oportunidades de trabalho foram: serviços de alojamento, alimentação e reparação (4.409), serviços médicos, odontológicos e veterinários (3.591) e comércio e administração de imóveis, valores mobiliários (1.645) e transporte e comunicação (951), ressaltando que houve expansão do emprego formal em todos os seis ramos dos serviços pesquisados.
Além de a situação do emprego na construção civil gerar apreensão, por ser um setor intensivo em mão de obra, há de se ressaltar o fato de que, após fechar 2018 com a criação de 16.269 empregos, o saldo positivo acumulado dos serviços apresenta-se em queda contínua, ou seja, o setor teve atenuada a sua capacidade de geração de empregos nos meses mais recentes, o que também gera apreensão, pois boa parte do emprego estadual encontra-se no referido setor. De um estoque estadual de 1.143.843 empregados com carteira assinada, em julho de 2019, 508.750 são empregados dos serviços, o equivalente a 44,5% do estoque de emprego cearense.
Ainda assim, é o setor terciário que tem sustentado o nível de emprego formal no Ceará no corrente ano, em decorrência da deterioração da oferta de emprego nos setores da construção civil e indústria de transformação. Isso posto, faz-se necessário redirecionar um pouco mais os esforços de operacionalização da intermediação de mão de obra para esses setores, obviamente dependendo das especificidades econômicas de cada região.
Por fim, para reflexão, por ocasião do monitoramento das metas preestabelecidas no Contrato de Gestão firmado entre o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho e o governo do estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, gera também preocupação a reduzida participação da colocação de trabalhadores no mercado de trabalho estadual via as ações do SINE/IDT, embora superior às de outros estados. No acumulado de janeiro a julho desse ano, quando do paralelo do número de trabalhadores colocados (24,2 mil) frente ao número de admissões (220,5 mil) do CAGED, chega-se a uma participação de apenas 11,0%. Desagregado por setor de atividade, têm-se as seguintes proporções: na indústria de transformação, 17,9%; na construção civil, 5,8%; no comércio, 7,0% e nos serviços, 7,7%.
*Por Mardônio Costa
Analista do Mercado de Trabalho do IDT